Revisão de literatura de instrumentos de avaliação de intenção empreendedora

Literature review of instruments of evaluation of entrepreneurial intente


Artigo de investigação
Recebido: 04/03/2020
Aprovado: 12/06/2020

Autores

Nelson Hauck Filho

Docente no Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco. Atua como Editor-chefe da Revista Avaliação Psicológica, e como Consulting Editor no Journal Psychological Assessment

Pedro Alfonso Cortez

Estudiante de Doctorado en Psicología en el Programa de Posgrado Stricto Sensu en Psicología de la Universidad de San Francisco.

Resumo

Modelos de intenção empreendedora ajudam na compreensão das crenças individuais relacionadas a iniciar o próprio negócio em um futuro próximo. Embora ainda recente na literatura brasileira e focada na Teoria do Comportamento Empreendedor Planejado entre universitários na literatura latino-americana, a avaliação da intenção empreendedora tem sido conduzida utilizando diversos instrumentos psicométricos em contextos norte americanos e europeus. Uma questão de interesse, no entanto, é se essas ferramentas possuem definição conceitual apropriadamente fundamentada e propriedades psicométricas robustas para utilização. Para contribuir a essa questão, o presente estudo objetivou identificar os instrumentos de intenção empreendedora apresentados nas bases Web of Science e Scielo e descrever as bases teóricas e as propriedades psicométricas desses instrumentos. Buscas nas bases de dados Web of Science e Scielo utilizando o descritor “intenção empreendedora” em português, inglês e espanhol permitiram localizar 676 artigos que, mediante a aplicação de critérios de inclusão e exclusão, resultaram na identificação de 13 distintos instrumentos de mensuração de intenção empreendedora entre os anos de 1993 e 2019. Dentre essas ferramentas, quatro escalas baseadas na teoria do Comportamento Empreendedor Planejado demonstraram definição conceitual apropriadamente fundamentada e níveis razoáveis de evidências de validade para a estrutura interna e consistência interna para avaliação de intenção empreendedora. Considera-se que esses instrumentos são os melhores candidatos a adaptações transculturais ao Brasil e América Latina ou mesmo para inspirar novas medidas sobre o tema nesses contextos, tendo em vista a adequação teórica e propriedades psicométricas apresentadas na corrente revisão.

Palavras-chave: intenção; empreendedorismo; trabalho; revisão de literatura

Abstract

Models of entrepreneurial intention help to understand individual beliefs related to starting their own business soon. It recent in Brazilian literature, while in the Latin American literature it is on the Theory of Planned Entrepreneurial Behavior among university students. In North American and European contexts, the assessment of entrepreneurial intention uses various psychometric instruments. A matter of interest, however, is whether these instruments have an adequately grounded conceptual definition and robust psychometric properties for use. To contribute to this issue, we identified the entrepreneurial intention instruments presented in the Web of Science and Scielo databases and described the theoretical bases and the psychometric properties of these instruments. We retrieved the papers from Web of Science and Scielo databases using the descriptor "entrepreneurial intention" in Portuguese, English and Spanish. We found 676 articles that, through the application of inclusion and exclusion criteria, resulted in the identification of 13 different instruments for measuring intention entrepreneurial between the years 1993 and 2019. Among these instruments, four scales based on the Theory of Planned Entrepreneurial Behavior demonstrated an adequately grounded conceptual definition and reasonable levels of validity evidence for the internal structure and internal consistency for the assessment of entrepreneurial intention. These instruments are considered to be candidates for cross-cultural adaptations to Brazil and Latin America or even to inspire new measures in these contexts, considering the theoretical adequacy and psychometric properties presented in the current review

Keywords: intention; entrepreneurship; labour; literature review

Resumen

Los modelos de intención emprendedora ayudan a comprender las creencias individuales relacionadas con el inicio del propio negocio en un futuro próximo. Todavía el tema es reciente en la literatura brasileña y se centró en la Teoría del Comportamiento Empresarial Planificado entre estudiantes universitarios en la literatura latinoamericana. En contextos norteamericanos y europeos la evaluación de la intención empresarial se ha llevado a cabo utilizando diversos instrumentos psicométricos. Sin embargo, una cuestión de interés es si estas herramientas tienen una definición conceptual adecuadamente fundamentada y propiedades psicométricas robustas para su uso. Para contribuir a este tema, el presente estudio tuvo como objetivo identificar los instrumentos de intención empresarial presentados en las bases de datos de Web of Science y Scielo y describir las bases teóricas y las propiedades psicométricas de estos instrumentos. Las búsquedas en las bases de datos de Web of Science y Scielo utilizando el descriptor “intención emprendedora” en portugués, inglés y español nos permitieron localizar 676 artículos que, mediante la aplicación de criterios de inclusión y exclusión, resultaron en la identificación de 13 instrumentos diferentes para medir la intención emprendedora entre los años 1993 y 2019. Entre estas herramientas, cuatro escalas basadas en la Teoría del Comportamiento Emprendedor Planificado demostraron una definición conceptual adecuadamente fundamentada y niveles razonables de evidencia de validez para la estructura interna y la consistencia interna para la evaluación de la intención emprendedora. Se considera que estos instrumentos son los mejores candidatos para las adaptaciones interculturales a Brasil y América Latina, bien como para inspirar nuevas medidas sobre el tema en estos contextos, teniendo en vista la adecuación teórica y las propiedades psicométricas presentadas en la revisión

Palabras clave: intención; emprendedor; trabajo; revisión de literatura

Introdução

O empreendedorismo se apresenta como um tema de investigação amplo e multifacetado, de forma que a análise das características pessoais que facilitam ou dificultam a proposição do próprio negócio é relevante para aprimorar a iniciativa pessoal de futuros empreendedores (Venkataraman, 2019; Veiga, Demo, & Neiva, 2017). Em uma revisão de literatura sobre o tema, Cortez e Veiga (2018) identificaram que a intenção empreendedora é um conceito com variadas elaborações, mas se apresenta como um conceito com desenvolvimento inicial no Brasil. Na literatura latino-americana, outros estudos de revisão identificaram que melhores compreensões sobre os modelos de intenção empreendedora podem otimizar as condições de avaliação desse construto (Lopez & Alvarez, 2018; Guzmán-Alfonso & Guzmán-Cuevas, 2012).
A importância de avaliação da intenção empreendedora é destacada por outras estudos empíricos e revisões propostos na literatura com abrangência latina americana e internacional, as quais indicam que a intenção empreendedora se propõe como um tema central no desenvolvimento estratégico de países que enfatizam o avanço econômico e social em tempos recentes (Cortez, 2019a; Frese & Gielnik, 2014; Martins, Santos, & Silveira, 2019). Baseando-se nessas evidências, propõe-se o presente estudo de revisão, tendo como ênfase os instrumentos de intenção empreendedora e suas respectivas propriedades psicométricas. Essa revisão é fundamental, pois possibilita identificar instrumentos úteis para utilização em ações educativas, políticas públicas e organizacionais capazes de influenciar positivamente o potencial empreendedor dos indivíduos (Krueger, Reilly, & Carsrud, 2000; Krueger, 2017; Liñán & Fayolle, 2015).
Em uma perspectiva teórica, existem diferentes modelos teóricos e empíricos sobre a intenção empreendedora. Na proposta da Teoria do Evento Empreendedor de Shapero e Sokol (1982), a intenção empreendedora enfatiza o que leva o indivíduo a querer criar o próprio negócio, destacando a importância das expectativas dos pares próximos, como familiares e amigos, que influenciam a possibilidade de o sujeito considerar desejável iniciar um negócio. Além desse aspecto, compõe a teoria dos autores a percepção de viabilidade para empreender, a qual é concebida como crenças de que as condições contextuais são favoráveis para a proposição do próprio negócio. Assim, quanto maior a percepção de desejabilidade e viabilidade para a proposição do próprio negócio, maior será a intenção empreendedora do sujeito.
Na Teoria do Comportamento Empreendedor Planejado, de Krueger e Carsrud (1993), a atitude, controle comportamental percebido e norma subjetiva resultam em maiores ou menores crenças intencionais de o indivíduo iniciar o próprio negócio. Esse modelo teórico se baseia nas compreensões de Ajzen (1991), apreendendo a atitude como as crenças volitivas, ou seja, o quanto o indivíduo valoriza positivamente ou negativamente o objeto social ao qual se dirige. O controle comportamental percebido indica a percepção do indivíduo sobre a própria capacidade de regular as suas ações ou expressar determinados comportamentos em relação ao fenômeno de interesse. A norma subjetiva é ainda outro componente, que se refere ao quanto os indivíduos percebem determinado comportamento como desejável ou reprovável, o que pode facilitar ou inibir a manifestação desse. Assim, maiores níveis de intenção empreendedora resultariam de atitude positiva, controle comportamental percebido e normas subjetivas favoráveis à proposição do próprio negócio.
Pela Teoria da Interpretação Temporal, a intenção empreendedora é compreendida por meio da temporalidade, ou seja, a forma como os indivíduos pensam sobre os eventos empreendedores de maneira construída longitudinalmente (Liberman & Trope, 1998). Especificamente, esta teoria enfatiza a diferenciação da intenção empreendedora no curto e longo prazo, a fim de verificar se a temporalidade implica variações nas crenças relativas à proposição do próprio negócio no curto e longo prazo (Hallam, Zanella, Dosamantes & Cardenas, 2016).
A despeito da quantidade de modelos elencados, identifica-se a carência de instrumentos para a mensuração do construto no Brasil (Cortez & Veiga, 2018). Ao se perscrutar a literatura brasileira, as propostas para mensurar características pessoais relacionadas ao empreendedorismo são, em geral, formuladas de maneira assistemáticas e nomeadas genericamente como perfil empreendedor (Moraes, Hashimoto, & Albertini, 2012; Moreira, Piurcosky, Silva, Guimarães, & Calegario, 2017; Schmidt & Bohnemberger, 2009; Silva, Oliveira, & Pinho, 2017; Souza et al., 2016, 2017). De forma ampliada, na literatura latino-americana, existe maior clareza conceitual e empírica na proposição de medidas sobre a intenção empreendedora (Lopez & Alvarez, 2018). Essas elaborações enfatizam a Teoria do Comportamento Empreendedor Planejado e se mantêm restritas a essa base teórica, visando, em grande parte, a explicação da atitude e intenção empreendedora entre estudantes universitários (Cortez, Veiga, & Salvador, 2019; Cortez, Veiga & Sousa, 2019; Hernández-López, Moncada-Toro, & Henao-Colorado, 2018; López & Ruiz-Ruano, 2014).
Assim, tanto no Brasil, quanto na América Latina, é possível aperfeiçoar as condições de avaliação do fenômeno com o intuito de otimizar a formulação de indicadores robustos sobre o tema para a formulação e avaliação de políticas públicas e educacionais sobre o empreendedorismo (Guzmán-Alfonso & Guzmán-Cuevas, 2012). Isso é importante, pois a difusão adequada do empreendedorismo em larga escala tende a apresentar impactos econômicos positivos, como a expansão do produto interno do país, e sociais, como é o caso dos maiores índices de empregabilidade decorrentes da geração de negócios (Borges, Andreassi, & Nassif, 2017).
Para tanto, um mapeamento dos instrumentos disponíveis pode oferecer alternativas para a avaliação da intenção empreendedora. Dessa forma, este estudo teve como objetivo identificar os instrumentos de intenção empreendedora apresentados nas bases Web of Science e Scielo e descrever as bases teóricas e as propriedades psicométricas desses instrumentos.

Método

Trata-se de um estudo qualitativo de revisão narrativa de literatura (Shoja et al., 2019). Para tanto, foi empregado o descritor intenção empreendedora por tratar do construto central da investigação, mediante o critério de máxima abrangência (Cooper, 1988). Com isso, implementou-se o operador booleano (“intenção empreendedora” OR “entrepreneurial intention” OR “intención empreendedora”) para identificar os estudos nas bases de dados. Os acessos às bases foram realizados em agosto de 2019.As bases WOS (Web of Science) e Scielo (Scientific Eletronic Library Online) foram escolhidas por se apresentarem mais generalistas e, portanto, adequadas para a presente investigação, a qual tem como objeto de estudo um tema com número elevado de contribuições multidisciplinares.
O critério de inclusão empregado para seleção dos artigos foi a apresentação de medida de intenção empreendedora. Os critérios de exclusão adotados foram a remoção de ocorrências duplicadas e artigos indisponíveis de forma completa na base de dados. Destaca-se ainda que não foi definido nenhum recorte temporal, a priori, pois buscou-se integrar o maior número de informações disponíveis nas bases, a fim de dimensionar adequadamente as contribuições dos estudos para a compreensão da intenção empreendedora em um sentido longitudinal e processual de evolução do campo de estudo.
Nas bases Web of Science (n = 642) e Scielo (n = 34) identificaram-se 676 estudos não duplicados. Em seguida, esses 676 trabalhos foram averiguados, tendo como critério de inspeção a impossibilidade de acessar o documento de forma completa na base de dados, o que resultou na remoção de seis investigações. Com a obtenção de 670 estudos, aplicou-se outro critério de inspeção em função dos idiomas português, inglês e espanhol, ocasionando a exclusão de sete investigações que não estavam nessas línguas. Dessa forma, 663 estudos foram retidos para a leitura preliminar. Na leitura preliminar, inspecionaram-se os títulos e resumos, o que ocasionou a exclusão de 650 trabalhos por não se adequarem ao critério de inclusão estabelecido, a saber, apresentar uma proposta de mensuração da intenção empreendedora. Assim, foram selecionados 13 artigos para compor o presente estudo de revisão, que abrangeram o período entre 1993 e 2019. Na Figura 1 apresenta-se o diagrama dos procedimentos empregados na presente investigação.

Resultados

Entre as 13 propostas de mensuração de intenção empreendedora identificadas foram apreendidas sete com definição conceitual apropriadamente fundamentada e seis sem esclarecimento quanto à origem da proposta conceitual. Os estudos que não esclareceram a fundamentação para conceitualizar o fenômeno tendem a definir a intenção empreendedora como unidimensional referindo-se às crenças de planejamento individual para iniciar o próprio negócio (Chen, Greene, & Crick.,1998; Crant, 1996; Zhao, Seibert, & Hills, 2005), estar empreendendo atualmente ou ao concluir o curso de graduação (Luthje & Franke, 2003) e interesse entre diferentes atividades profissionais, incluindo entre elas a possibilidade de empreender (Wilson, Kickul, & Marlino, 2007). Ainda sobre os estudos que não apresentaram definição conceitual apropriadamente fundamentada para compreender a intenção empreendedora, outra definição foi proposta por Oosterbeek et al. (2010), delimitando o conceito como propor o próprio negócio num período de até 15 anos a partir do momento presente.
Em relação às sete medidas que indicaram definição conceitual apropriadamente fundamentada para a definição de intenção empreendedora, apresentam-se as investigações de Krueger (1993), Liñán e Chen (2009), Moriano, Gorgievski, Laguna, Stephan e Zarafshani (2012), Rueda, Moriano e Liñán (2015), Laguía, Moriano, Morelo e Gámez, (2017), Cortez e Veiga (2019) e Hallam et al. (2016). Os elementos teóricos que fundamentaram o conceito de intenção empreendedora para essas medidas foram originários das teorias do Evento Empreendedor (Shapero et al., 1982), Comportamento Empreendedor Planejado (Krueger & Carsrud, 1993) e Interpretação Temporal (Hallam et al., 2016).
A Teoria do Evento Empreendedor de Shapero et al. (1982) foi empregada integralmente na medida de Krueger (1993) e parcialmente na proposta de Liñán e Chen (2009). Na medida de Krueger (1993) a intenção empreendedora foi definida como percepção de desejabilidade e viabilidade para iniciar um negócio num futuro próximo e operacionalizada pelas dimensões desejabilidade percebida e viabilidade percebida sendo esta proposição compatível com a ideia de Shapero et al. (1982) para o fenômeno. Na medida de Liñán e Chen (2009) a influência da teoria de Shapero et al. (1982) ocorreu pela formulação da dimensão norma subjetiva, a qual designou a desejabilidade percebida pelo indivíduo em relação aos pares próximos quanto à opção de o sujeito empreender.
Analisando-se de forma mais detalhada a medida de Liñán e Chen (2009) observa-se que, além da influência de Shapero et al. (1982), a Teoria do Comportamento Empreendedor Planejado (TCEP) também exerceu expressivo impacto. Além da norma subjetiva, incluíram-se entre as dimensões da medida a atitude, o controle comportamental percebido e a intenção comportamental. Essas dimensões foram adaptadas por Krueger e Carsrud (1993) para compreender a intenção empreendedora tendo como inspiração a Teoria do Comportamento Planejado (TCP) de Ajzen (1991). Nesse sentido, a medida de Liñán e Chen (2009) também se apresenta compatível com as dimensões teóricas da TCEP e TCP, bem como incorpora a noção de desejabilidade de pares próximos proposta por Shapero et al. (1982).
Outras medidas que tiveram a conceitualização inspirada na TCEP foram as propostas de Moriano et al. (2012), Rueda et al. (2015), Laguía et al. (2017) e Cortez e Veiga (2019). Em todas essas escalas de mensuração as dimensões atitude, controle comportamental percebido, norma subjetiva e intenção comportamental estavam presentes, o que as tornam adequadas ao se considerar as dimensões elencadas pela TCEP. No entanto, diferentemente da proposta de Liñán e Chen (2009) que apresentam a elaboração teórica de Krueger e Carsrud (1993) como inspiração para formular a medida, as escalas de Moriano et al. (2012), Rueda et al. (2015), Laguía et al. (2017) e Cortez e Veiga (2019) indicaram diretamente Ajzen (1991) como a fonte da TCP e Liñán e Chen (2009) como os autores que realizaram a aplicação desta teoria para analisar a intenção empreendedora.
Ao se analisar as diferenças nas propostas de Krueger e Carsrud (1993) e Liñán e Chen (2009) nota-se divergência na nomenclatura empregada pelos autores. Liñán e Chen (2009) designam o modelo teórico desenvolvido para intenção empreendedora como transcultural, buscando aplica-lo numa medida que pudesse ser replicada entre países distintos. Infere-se, portanto, que as propostas de Moriano et al. (2012), Rueda et al. (2015) e Laguía et al. (2017) indicam-na como inspiração teórica, pois a formulação para compreender a intenção empreendedora de forma transcultural foi estabelecida por Liñán e Chen (2009).
Apurando-se a influência da Teoria de Interpretação Temporal, verifica-se na medida de Hallam et al. (2016) a proposta com maior incorporação desse modelo teórico. Nessa medida, os autores propõem duas dimensões para a intenção empreendedora: a intenção empreendedora de curto prazo e a intenção empreendedora de longo prazo. No caso de intenção empreendedora de curto prazo, os autores definem um evento chave para que os indivíduos analisem a intenção empreendedora em função dele. Entre estudantes universitários dos últimos períodos de graduação eles utilizam o fim da graduação como o evento temporal, pois é um episódio comum à população universitária e se apresenta no curto prazo para os concluintes de diferentes cursos.
No caso de intenção empreendedora de longo prazo, Hallam et al. (2016) empregaram termos vagos e inespecíficos como “em algum momento no futuro”, “durante minha vida” para que os indivíduos pudessem ter maior liberdade de situar a intenção empreendedora em um contínuo temporal mais distante. Comparando-a com as demais medidas analisadas até então, ela distingue-se das demais por incluir a percepção temporal como variável relacionada à intenção empreendedora o que a torna compatível com a proposta da Teoria da Interpretação Temporal. Na Tabela 1 sintetizam-se os aspectos teórico-conceituais das medidas apresentadas até então em função das dimensões propostas para as escalas de mensuração.

Medida Fundamentação teórica Dimensões
Entrepreneurial Decision (Chen et al.,1998) Não apresentada Intenção empreendedora
Entrepreneurial Intention (Crant, 1996) Não apresentada Intenção empreendedora
Entrepreneurial Intention (Zhao et al., 2005) Não apresentada Intenção empreendedora
Entrepreneurial Intention (Luthje y Franke, 2003) Não apresentada Intenção empreendedora
Entrepreneurial Intention (Wilson et al., 2005) Não apresentada Intenção empreendedora
Entrepreneurial Intention (Oosterbeek et al., 2010) Não apresentada Intenção empreendedora
Perceived Desirability and Feasibility to New Venture (Krueger, 1993) Evento Empreendedor (Shapero et al., 1982) Desejabilidade percebida para empreender Viabilidade percebida para empreender
Entrepreneurial Intention Questionnaire – EIQ (Liñán y Chen, 2009) Evento Empreendedor (Shapero et al., 1982) Comportamento Empreendedor Planejado (Krueger y Carsrud, 1993) Atitude Norma subjetiva Controle comportamental percebido Intenção empreendedora
Entrepreneurial Intention Questionnaire (Moriano, et al., 2012) Ajzen (1991) Entrepreneurial Intention Questionnaire – EIQ (Liñán y Chen, 2009) Atitude Norma subjetiva Autoeficácia empreendedora Intenção empreendedora
TPBQ Entrepreneurial Intention (Rueda et al., 2015) Ajzen (1991) Entrepreneurial Intention Questionnaire - EIQ (Liñán y Chen, 2009) Atitude Norma subjetiva Controle comportamental percebido Intenção empreendedora
Cuestionario de Intención Emprendedora (Laguía, et al., 2017) Teoria do Comportamento Planejado (Ajzen, 1991) Entrepreneurial Intention Questionnaire - EIQ (Liñán y Chen, 2009) TPBQ Entrepreneurial Intention (Rueda et al., 2015) Atitude Norma subjetiva Controle comportamental percebido Intenção empreendedora
Temporal Construal Entrepreneurial Intention (Hallam et al., 2016) Teoria de Interpretação Temporal (Liberman y Trope, 1998) Intenção empreendedora de curto prazo Intenção empreendedora de longo prazo
Escala de Intenção Empreendedora (Cortez y Veiga, 2019) Ajzen (1991) Entrepreneurial Intention Questionnaire – EIQ (Liñán y Chen, 2009) Intenção empreendedora

Em relação às evidências de validade empírica cabe destacar que, entre as medidas que não apresentaram definição conceitual apropriadamente fundamentada para a intenção empreendedora, os autores não exploraram a estrutura interna das escalas, utilizavam escala de respostas do tipo Likert de resposta e apresentavam a medida em inglês. A medida de Chen et al. (1998) reportou apenas a consistência interna por meio do alfa para o fator intenção empreendedora, o qual foi 0,92 numa amostra de 140 estudantes universitários e 175 empresários e gerentes.
No caso da escala de mensuração de Crant (1996), o autor reportou apenas a relação do fator intenção empreendedora com outras variáveis (proatividade r = 0,48, p(mayor que)0,01; nível educacional r = 0,24; p(mayor que)0,01 e parentais empreendedores r = 0,22; p(mayor que)0,01). O alfa para o fator intenção empreendedora foi 0,93 numa amostra de 181 estudantes universitários. O estudo de Zhao et al. (2005) apresentou a relação da medida com a escala de Chen et al. (1998), obtendo correlação positiva (r = 0,79; p(mayor que)0,01). Além disso, os autores reportaram a consistência interna em duas ocasiões e amostras distintas. Para a primeira amostra com 778 estudantes universitários o alfa foi 0,95. Na segunda amostra composta de 265 estudantes universitários o alfa foi 0,92.
A proposta de mensuração de Luthje e Franke (2003) reportou como evidência de validade a predição de intenção empreendedora pela atitude empreendedora. A atitude empreendedora foi capaz de predizer 50% da variância de intenção empreendedora (p(mayor que)0,01). O alfa para o fator intenção empreendedora foi 0,79 numa amostra de 2193 estudantes universitários. Para a medida de Wilson et al. (2007), cuja predominância foi de estatísticas descritivas e inferenciais, os autores reportaram somente a diferença significativa na intenção empreendedora entre sexos (t = 9,72; p(mayor que)0,01; Mhomens = 0,58; Mmulheres = 0,42).
A medida de Oosterbeek et al. (2010) demonstrou a relação de intenção empreendedora com uma série de traços como necessidade de realização (r = 0,27; p(mayor que)0,01), necessidade de autonomia (r = 0,21; p(mayor que)0,01), necessidade de poder (r = 0,20; p(mayor que)0,05), orientação social (r = 0,18; p(mayor que)0,05), autoeficácia (r = 0,27; p(mayor que)0,01), persistência (r = 0,26; p(mayor que)0,01) e propensão ao risco (r = 0,02; p>0,05). Também foram apresentadas para essa medida as relações entre intenção empreendedora e habilidades como visão de mercado (r = 0,48; p(mayor que)0,01), criatividade (r = 0,40; p(mayor que)0,01) e flexibilidade (r = 0,17; p(mayor que)0,01) numa amostra de 562 estudantes universitários. Não houve estimativa de consistência interna.
No que tange às medidas que apresentaram definição conceitual apropriadamente fundamentada, todas empregaram escalas do tipo Likert de resposta e língua inglesa na apresentação, excetuando-se a formulação de Laguía et al. (2017) que foi desenvolvida em espanhol. Nos estudos que analisaram evidências de validade em relação à estrutura interna, os autores adotaram a análise fatorial exploratória como técnica estatística predominante.
Especificamente no estudo de Krueger (1993), o autor explorou a estrutura da interna em dois fatores empíricos percepção de desejabilidade para empreender (λ = 0,32 ~ 0,52) e percepção de viabilidade para empreender (λ = 0,41 ~ 0,81). Para analisar a consistência interna foi empregado o coeficiente alfa, sendo 0,69 para o fator percepção de desejabilidade para empreender e 0,77 para o fator percepção de viabilidade para empreender numa amostra de 126 estudantes universitários. O autor também apresentou a correlação entre os fatores percepção de desejabilidade para empreender (r = 0,23; p(mayor que)0,01) e percepção de viabilidade para empreender (r = 0,32; p(mayor que)0,01) em função do critério intenção de empreender. O critério foi avaliado por meio de um único item dicotômico “sim” ou “não” sobre o quanto o indivíduo acreditava que iniciaria o próprio negócio num futuro próximo.
A medida de Liñán e Chen (2009) teve a estrutura interna identificada por meio de quatro fatores, a saber, atitude (λ = 0,60 ~ 0,76), norma subjetiva (λ = 0,49 ~ 0,98), controle comportamental percebido (λ = 0,71 ~ 0,82) e intenção comportamental (λ = 0,65 ~ 0,91). Os autores também verificaram a correlação entre intenção comportamental e os outros fatores da medida. A intenção comportamental e atitude apresentaram relação de maior magnitude (r = 0,76; p(mayor que)0,01), seguidas por intenção comportamental e controle comportamental percebido (r = 0,43; p(mayor que)0,01) e intenção comportamental e norma subjetiva (r = 0,20; p(mayor que)0,05). A consistência interna foi avaliada pelo coeficiente alfa numa amostra de 385 estudantes universitários espanhóis e 125 estudantes universitários taiwaneses. O alfa foi por fator foi 0,89 para atitude, 0,77 para norma subjetiva, 0,88 para controle comportamental percebido e 0,94 para intenção empreendedora.
A escala desenvolvida por Moriano et al. (2012) não apresentou evidência relacionada à estrutura interna dos quatro fatores que a integram. Os autores exploraram a predição de intenção empreendedora por meio da atitude empreendedora (β = 0,40; p(mayor que)0,01), norma subjetiva (β = 0,15; p(mayor que)0,05) e autoeficácia empreendedora (β = 0,17; p(mayor que)0,05) com variância total explicada de 38%. O alfa para os fatores da medida foi 0,77 para atitude empreendedora, 0,87 para norma social, 0,80 para autoeficácia e 0,86 para intenção empreendedora numa amostra de 1047 estudantes universitários.
A investigação de Rueda et al. (2015) identificou quatro fatores e evidenciou validade em relação à estrutura interna para os fatores da medida, como atitude (λ = 0,58 ~ 0,79), norma subjetiva (λ = 0,76 ~ 0,88), autoeficácia (λ = 0,77 ~ 0,86) e intenção comportamental (λ = 0,91 ~ 0,94). Os autores também realizaram a predição de intenção empreendedora por meio da atitude (β = 0,26; p(mayor que)0,01); norma subjetiva (β = 0,08; p(mayor que)0,01) e autoeficácia (β = 0,44; p(mayor que)0,01) com variância total explicada de 46%. As estimativas de fidedignidade foram realizadas por meio dos índices AVE (Variância Média Extraída) e CC (Confiabilidade Composta) para os fatores atitude (AVE = 0,50; CC = 0,82), norma subjetiva (AVE = 0,70; CC = 0,87), autoeficácia (AVE = 0,66; CC = 0,87) e intenção comportamental (AVE = 0,70; CC = 0,96) numa amostra de 3233 estudantes universitários.
No estudo de Laguía et al. (2017) a medida de intenção empreendedora foi apresentada por meio de quatro fatores com evidência de validade em relação à estrutura interna, abrangendo atitude (λ = 0,57 ~ 0,75), norma subjetiva (λ = 0,74 ~ 0,92), controle comportamental percebido (λ = 0,55 ~ 0,84) e intenção comportamental (λ = 0,72 ~ 0,87). Os autores (2017) também apresentaram a predição de intenção empreendedora com 47% da variância explicada pelos fatores atitude (β = 0,48; p(mayor que)0,01); norma subjetiva (β = 0,15; p(mayor que)0,01) e controle comportamental percebido (β = 0,16; p(mayor que)0,01). As estimativas de fidedignidade também foram apreendidas por meio dos índices AVE (Variância Média Extraída) e CC (Confiabilidade Composta) para os fatores atitude (AVE = 0,55; CC = 0,86), norma subjetiva (AVE = 0,73; CC = 0,89), controle comportamental percebido (AVE = 0,60; CC = 0,86) e intenção comportamental (AVE = 0,79; CC = 0,94). A medida foi aplicada em 316 estudantes universitários.
Sob influência da proposta de Liñán e Chen (2009) foi identificada na literatura brasileira a adaptação do instrumento para a língua portuguesa. Cortez e Veiga (2019) realizaram a adaptação cultural do instrumento com ênfase em uma medida abreviada e unidimensional da intenção empreendedora. Os autores identificaram estrutura unifatorial para a medida com 13,90% de resíduos pelo método de análise de componentes principais. As cargas fatoriais oscilaram entre 0,89 e 0,97 com alfa de Cronbach de 0,94 e índice KR20 = 0,78. Adicionalmente, também examinaram funcionamento diferencial (DIF) entre estudantes universitários brasileiros, evidenciando que alguns itens são compreendidos de forma distinta ao regular por estudantes de cursos inseridos na área de Ciências Sociais Aplicadas.
A escala de mensuração de Hallam et al. (2016) não apresentou evidências relacionadas à estrutura interna para os dois fatores propostos. Os autores investigaram a correlação de intenção empreendedora de curto prazo (STEI) com a autoeficácia empreendedora (r = 0,36; p(mayor que)0,01) e intenção empreendedora de longo prazo (LTEI) com a autoeficácia empreendedora (r = 0,28; p(mayor que)0,01). Além disso, eles testaram a predição de intenção empreendedora de longo prazo pela intenção empreendedora de curto prazo (β = 0,59; p(mayor que)0,01), mas não relataram o percentual de variância explicada. A fidedignidade para os dois fatores reportada por meio do coeficiente alfa foi 0,83 para o fator STEI e 0,64 para o LTEI numa amostra de 1046 estudantes universitários. Na Tabela 2 apresenta-se uma síntese das evidências descritas para as medidas de intenção empreendedora identificadas por meio do presente estudo.

Medida Evidências de validade Estimativas de fidedignidade Amostra Variação da escala de respostas Idioma
Entrepreneurial Decision (Chen et al.,1998) Não apresentadas Alfa de Cronbach Estudantes universitários Empresários e gerentes Cinco pontos Inglês
Entrepreneurial Intention (Crant, 1996) Relação com outra variável Alfa de Cronbach Estudantes universitários Sete pontos Inglês
Entrepreneurial Intention (Zhao et al., 2005) Relação com outra variável Alfa de Cronbach Estudantes universitários Cinco pontos Inglês
Entrepreneurial Intention (Luthje y Franke, 2003) Variável critério Alfa de Cronbach Estudantes universitários Quatro pontos Dicotômica Inglês
Entrepreneurial Intention (Wilson et al., 2005) Não apresentadas Não apresentada Estudantes universitários Cinco pontos Inglês
Entrepreneurial Intention (Oosterbeek, et al. 2010) Relação com outra variável Alfa de Cronbach Estudantes universitários Sete pontos Inglês
Perceived Desirability and Feasibility to New Venture (Krueger, 1993) Estrutura interna Variável critério Alfa de Cronbach Estudantes universitários Cinco pontos Dicotômica Inglês
Entrepreneurial Intention Questionnaire - EIQ (Liñán y Chen, 2009) Estrutura interna Variável critério Alfa de Cronbach Estudantes universitários Sete pontos Inglês
Entrepreneurial Intention Questionnaire (Moriano et al., 2012) Variável critério Alfa de Cronbach Estudantes universitários Sete pontos Inglês
TPBQ Entrepreneurial Intention (Rueda et al, 2015) Estrutura interna Variável critério AVE (Variância Extraída Média) CC (Confiabilidade Composta) Estudantes universitários Seis pontos Inglês
Cuestionario de Intención Emprendedora (Laguía et al., 2017) Estrutura interna Variável critério AVE (Variância Extraída Média) CC (Confiabilidade Composta) Estudantes universitários Sete pontos Espanhol
Temporal Construal Entrepreneurial Intention (Hallam et al., 2016) Relação com outra variável Variável critério Alfa de Cronbach Estudantes universitários Sete pontos Inglês
Escala de Intenção Empreendedora (Cortez y Veiga, 2019) Estrutura interna Funcionamento diferencial dos itens (DIF) Alfa de Cronbach KR20 Estudantes universitários Cinco pontos Português

Discussão

O presente estudo teve como objetivo identificar os instrumentos de intenção empreendedora apresentados nas bases Web of Science e Scielo e descrever as bases teóricas e as propriedades psicométricas desses instrumentos. Analisando-se os conceitos empregados para definir a intenção empreendedora nas medidas que não apresentaram esclarecimentos quanto à origem conceitual, verifica-se que há convergência entre as propostas de Chen et al. (1998), Crant (1996) e Zhao et al. (2005). Esses autores a definem como crenças relativas à proposição do próprio negócio. Essa clareza conceitual é perdida na proposta Luthje e Franke (2003), pois o autor adiciona ao conceito de intenção empreendedora o exercício da atividade empreendedora no momento atual. No caso da definição de Oosterbeek et al. (2010) essa confusão conceitual também acontece, uma vez que o autor também trata sobre o sujeito empreender no momento atual em vez de enfatizar a intenção como crença relacionada à proposição do próprio negócio no futuro. Na medida de Wilson et al. (2007) a dificuldade conceitual se manifesta pelo autor misturar numa mesma medida a intenção empreendedora com intenção de trabalhar como empregado em empresas de terceiros e em outras áreas.
Assim, verifica-se que somente em três delas (Chen et al., 1998; Crant, 1996; Zhao et al., 2005) há uma proposta conceitualmente razoável para designar a intenção empreendedora, apesar da inexistência de fundamentação teórica advinda da psicologia para auxiliar na proposição dessas escalas de mensuração. Nesse aspecto, cabe questionar até que ponto estas medidas, de fato, se referem à intenção empreendedora como um construto psicológico, uma vez que sem um arcabouço teórico que defina o traço latente ao qual elas se referem, não é possível indicar adequadamente o que está sendo avaliado.
Em relação às medidas que apresentaram definição conceitual apropriadamente fundamentada para a proposição da medida observam-se três tendências teóricas distintas representadas, respectivamente, pelas teorias do Evento Empreendedor, Comportamento Empreendedor Planejado e Interpretação Temporal. A definição de intenção empreendedora para a medida Krueger (1993) fundamentada por meio da Teoria do Evento Empreendedor (TEE) mostra-se conceitualmente adequada, pois enfatiza percepções relacionadas à proposição do próprio negócio, especificamente a desejabilidade e viabilidade percebida para empreender, o que é compatível com o modelo teórico da TEE.
As definições de intenção empreendedora para as medidas de Liñán e Chen (2009), Moriano, et al. (2012), Rueda et al. (2015) e Laguía, et al. (2017) também se mostraram adequadas. É possível verificar essa adequação tendo como base a Teoria do Comportamento Planejado (TCP) e, especificamente, a adaptação desta para analisar a intenção empreendedora por meio da Teoria do Comportamento Empreendedor Planejado (TCEP) proposta por Krueger e Carsrud (1993). Nas medidas supracitadas a intenção empreendedora se mostra adequadamente concebida ao enfatizar atitude, norma subjetiva, controle comportamental percebido e intenção.
No que tange à influência da Teoria de Interpretação Temporal (TIT) a medida de Hallam et al. (2016) concebeu a intenção empreendedora em relação à percepção temporal dos indivíduos quanto à possibilidade de empreender no curto e longo prazo, o que se mostra adequado frente à proposição teórica da TIT. Contudo, é relevante destacar que, ao mesmo tempo que a TIT torna a mensuração mais específica no continuum cronológico, ela também pode implicar em vieses antes não existentes em medidas que não abrangem a perspectiva temporal. Afinal, ao inserir nos itens marcas temporais para distinguir entre curto e longo prazo, corre-se o risco de apresentar eventos que não abranjam de forma representativa todos os sujeitos da população-alvo. Além disso, pode-se diminuir a acurácia das estimativas obtidas por medidas fundamentadas nesse modelo teórico, devido à variação cognitiva existentes entre sujeitos frente à capacidade individual de avaliar crenças e se planejar no contínuo temporal. Assim, esses possíveis viéses devem ser considerados ao se aplicar a proposta de Hallam et al. (2016) para mensurar a intenção empreendedora.
Em síntese, considerando-se que as propostas de mensuração desenvolvidas por meio de teóricos da psicologia apresentam concepções diferentes para o fenômeno, é possível estabelecer uma distinção entre elas. Na Figura 2 sintetiza-se esta distinção ao se considerar o foco de avaliação e aplicação prática das diferentes escalas de mensuração.

Teoria Medidas Foco da avaliação Aplicação
Evento Empreendedor (Shapero et al., 1982) Krueger (1993) Percepção de viabilidade e desejabilidade para empreender Avaliação de crenças intencionais relacionadas a aspectos situacionais
Comportamento Empreendedor Planejado (Krueger y Carsrud, 1993) Liñán e Chen (2009) Moriano et al. (2012) Rueda et al. (2015) Laguía et al. (2017) Cortez et al. (2019) Atitude, norma subjetiva, controle comportamental e intenção de empreender Avaliação cognitiva intencional, propostas transculturais e instrumento breve
Interpretação Temporal (Liberman y Trope, 1998) Hallam et al. (2016) Intenção empreendedora de curto e longo prazo Ênfase na influência da temporalidade nas crenças intencionais

Observando-se a síntese da Figura 2, verifica-se que para avaliar de forma predominante a influência de aspectos contextuais nas crenças relativas à intenção empreendedora, o modelo da Teoria do Evento Empreendedor utilizado na medida de Krueger (1993) é útil pelo foco na percepção de desejabilidade e viabilidade para empreender. Com o intuito de avaliar aspectos cognitivos de forma mais abrangente e em estudos transculturais as elaborações fundamentadas na Teoria do Comportamento Empreendedor Planejado existentes nas medidas de Liñán e Chen (2009), Laguía, et al. (2017), Moriano, et al (2012) e Rueda et al (2015) podem se apresentar mais adequadas. Por fim, no caso de investigações que priorizem a influência da temporalidade, sequências de eventos ou outros aspectos cronológicos nas crenças relacionadas à intenção empreendedora, a alternativa desenvolvida por meio da Teoria de Interpretação Temporal adotada na medida de Hallam et al. (2016) pode se mostrar mais útil.
No que concerne às evidências de validação empírica, verifica-se que a maior parte das medidas se mostraram lacunares em relação à exploração da estrutura interna. A ausência de evidência de validade para a estrutura interna ocorreu em todas as medidas sem identificação quanto à origem da fundamentação teórica presentes na corrente revisão (Chen et al.,1998; Crant, 1996; Luthje & Franke, 2003; Oosterbeek et al., 2016; Wilson et al., 2005; Zhao et al., 2005). Entre as medidas com contribuição teórica da psicologia as propostas de Hallam et al. (2016) e Moriano et al. (2012) também não apresentaram evidências relacionadas à estrutura interna. Especificamente sobre as medidas sem evidências de validade relacionada à estrutura interna e sem esclarecimento quanto à fundamentação teórica para a formulação da proposta (Chen et al.,1998; Crant, 1996; Luthje & Franke, 2003; Oosterbeek et al., 2016; Wilson et al., 2005; Zhao et al., 2005) torna-se desaconselhável empregá-las em estudos futuros para avaliação de intenção empreendedora como construto psicológico, devido à ausência de evidências empíricas e corpo teórico-conceitual que sustente a validação delas no momento presente.
Tratando-se sobre as medidas com arcabouço teórico advindo da psicologia, nota-se na escala de mensuração desenvolvida por Moriano et al. (2012) adequação teórico-conceitual e empírica deste instrumento em relação à proposta transcultural de Liñán e Chen (2009), a qual pode ser inferida como evidência de validade relacionada à estrutura interna para a medida ao se considerar os índices estimados pelos autores em investigação anterior, uma vez que as duas medidas compartilham estrutura fatorial semelhante. No entanto, em estudos que optarem por empregá-la a posteriori, deve-se identificar as cargas fatoriais e explorar os fatores da adaptação realizada por Moriano et al. (2012), a fim de que seja possível precisar as diferenças entre as duas propostas.
Sobre a ausência de evidências de validade em relação à estrutura interna para medida de Hallam et al. (2016), torna-se possível questionar até que ponto é possível distinguir empiricamente a intenção empreendedora em curto e longo prazo como fatores independentes. Como tal proposição não foi analisada de forma empírica pelos autores na elaboração da medida, tal lacuna apresenta-se como uma agenda de pesquisa. Tendo ainda em vista que o arcabouço conceitual da Teoria da Interpretação Temporal empregado na medida é passível de operacionalização e teste empírico, o desenvolvimento de estudos pautando-se nesse modelo teórico e de mensuração pode prestar contribuições inéditas à avaliação do fenômeno por se tratar de um tema relevante, mas pouco explorado até então.
Analisando-se as medidas que apresentaram evidências de validade em relação à estrutura interna, identificam-se níveis adequados para as evidências reportadas nas medidas de Kueger (1993), Liñán e Chen (2009), Rueda et al. (2015), Laguía et al. (2017) e Cortez e Veiga (2019). Excetuando-se a proposta abreviada de Cortez e Veiga (2019), as demais propostas apresentaram compatibilidade entre as dimensões teorizadas e os fatores empíricos encontrados. Ademais, as cargas fatoriais dos itens representativos dos fatores, no geral, foram maiores que 0,40 para a medida de Krueger (1993) e 0,49 para as medidas de Liñán e Chen (2009), Rueda et al. (2015) e Laguía et al. (2017), o que se apresenta como razoável para medidas que se encontram em estado de desenvolvimento e pesquisa (Pasquali, 2009).
Cabe destacar ainda que as cargas fatoriais identificadas para as medidas baseadas na Teoria do Comportamento Empreendedor Planejado – TCEP (Cortez & Veiga, 2019; Liñán e Chen, 2009; Laguía et al., 2017; Rueda et al., 2015) foram superiores àquelas verificadas na medida de Krueger (1993) inspirada pela Teoria do Evento Empreendedor – TEE. Tal constatação resulta na possibilidade de hipotetizar maior grau de robustez empírica para as medidas desenvolvidas por meio da TCEP para compreender a intenção empreendedora, quando comparadas as outras proposições teóricas empregadas. Tal evidência pode sugerir o aprimoramento e desenvolvimento de medidas de intenção empreendedora por meio da TCEP em investigações ulteriores pela maior robustez empírica apresentada até então por este modelo teórico.
Isso permite concluir que, entre os diferentes modelos teóricos e evidências empíricas analisados até então, as medidas que apresentaram contribuição teórica advinda da psicologia por meio da Teoria do Comportamento Empreendedor Planejado (Cortez & Veiga, 2019; Laguía et al., 2017; Liñán e Chen, 2009; Rueda et al., 2015) foram aquelas que apresentaram maior robustez teórica e empírica. Portanto, tais proposições podem servir de inspiração para desenvolver uma agenda de pesquisa brasileira sobre o tema e aprimorar as condições de mensuração do fenômeno no Brasil. Cabe destacar que uma limitação da proposta brasileira desenvolvida por Cortez e Veiga (2019) é a impossibilidade de avaliar de forma completa a Teoria do Comportamento Empreendedor Planejado por se tratar de uma medida breve da intenção empreendedora, o que pode ser explorado por estudos futuros. Por outro lado, a brevidade da medida pode ser útil para contextos de avaliação de rastreio e aplicações de compreensão em larga escala da intenção empreendedora.
No que tange às estimativas de fidedignidade todas as medidas apresentadas ao longo da presente revisão indicaram níveis razoáveis para os indicadores empregados, tomando-se como referência o Alfa de Cronbach > 0,60; a CC (Confiabilidade Composta) > 0,60 e a AVE (Variância Extraída Média) > 0,50 (Hair, Black, Babim, Anderson, & Tatham, 2009). No entanto, é importante salientar um questionamento recente sobre o uso restritivo de estimativas de fidedignidade e pontos de corte para analisar a consistência interna das medidas, pois, diferentes indicadores podem ser sensíveis para cargas fatoriais mais altas ou baixas, como é o caso, respectivamente, da AVE e CC, o que pode enviesar o resultado encontrado (Valentini & Damásio, 2017). Neste sentido, é fundamental que ao elaborar estimativas de fidedignidade em estudos futuros sobre a mensuração da intenção empreendedora, os autores optem por reportar diferentes índices simultaneamente, a fim de permitir a avaliação destes com maior acurácia (Zanon & Hauck-Filho, 2015) e em consonância com práticas apropriadas sobre o tema (Cortez, 2019b).
Versando ainda sobre as práticas referentes a aspectos analíticos que podem ser aprimoradas em estudos sobre a intenção empreendedora indica-se, em investigações futuras, explorar evidências de validade baseadas na estrutura interna com a aplicação de estimadores robustos às violações de normalidade e adequados ao nível de mensuração ordinal (Hauck-Filho, 2016a, 2016b). Essa recomendação é fundamental para o desenvolvimento de medidas sobre intenção empreendedora, pois, em nenhum dos estudos elencados os autores trataram sobre esta questão, apesar de ela se apresentar como relevante no escopo analítico das práticas relativas ao desenvolvimento de medidas para avaliação de fenômeno psicológicos no Brasil (Hauck-Filho & Zanon, 2015). Também é fundamental otimizar a compreensão do funcionamento diferencial dos instrumentos entre culturas e amostras distintas, uma vez que foi identificado compreensão distinta para a versão abreviada da escala em língua portuguesa (Cortez & Veiga, 2019).
Sobre as evidências de validade baseadas na relação com outras variáveis e na predição de intenção empreendedora, as diferentes medidas demonstraram uma diversidade de fatores como atitude, norma subjetiva, controle comportamental percebido, intenção comportamental, autoeficácia, proatividade, criatividade, flexibilidade cognitiva, propensão ao risco, necessidade de realização, necessidade de poder e necessidade de autonomia como correlacionadas com a intenção empreendedora. No geral, esses fatores se apresentam correlacionados positivamente com a intenção empreendedora e podem ser empregados para compreender a relação desse construto com outras variáveis. Para estudiosos interessados em se aprofundar neste aspecto, há inclusive estudos de revisão tratando da predição de intenção empreendedora na literatura brasileira que podem subsidiar investigações futuras visando a compreensão dessas relações (Ferreira, Loiola, & Gondim, 2017; Loiola, Gondim, Pereira, & Ferreira, 2016).
Por último, ressalta-se como limitação da presente revisão a natureza descritiva empregada ao se analisar os estudos, o que não possibilitou a comparação quantitativa dos índices e estimativas relatados. Dessa forma, em estudos ulteriores, pode ser desejável empregar as evidências coletadas por meio do presente estudo em metanálises, a fim de verificar de forma quantitativa as estimativas evidenciadas até então. A principal contribuição do presente estudo refere-se a identificar as bases teórico-conceituais e evidências de validação empírica das medidas propostas para compreensão de intenção empreendedora, o que pode possibilitar a otimização de elaborações posteriores sobre o tema.
Espera-se, com as proposições fornecidas por meio deste estudo, que as condições para a aprimoramento e formulação de propostas de mensuração de intenção empreendedora ou adaptação das alternativas existentes na literatura internacional seja facilitada. Afinal, é verificável a insuficiência e possibilidade de otimização dos instrumentos voltados à avaliação do fenômeno em língua portuguesa e, especificamente, no contexto brasileiro, o que torna emergente a necessidade de otimizar as propriedades de avaliação deste construto no Brasil.


References

  • Ajzen, I. (1991). The theory of planned behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50(2), 179-211. doi: 10.1016/0749-5978(91)90020-t
  • Borges, C. V., Andreassi, T., & Nassif, V. M. J. (2017). (A Falta de) Indicadores de Empreendedorismo no Brasil. REGEPE Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, 6(3), 1-9. doi: 10.14211/regepe.v6i3.771
  • Chen, C. C., Greene, P. G., & Crick, A. (1998). Does entrepreneurial self-efficacy distinguish entrepreneurs from managers?. Journal of Business Venturing, 13(4), 295-316. doi: 10.1016/s0883-9026(97)00029-3
  • Cooper, H.M. (1988). Knowledge in Society. Netherlands, NL: Springer. doi: 10.1007/BF03177550
  • Cortez, P. A. (2019a). Psychometrics studies and response bias control: contributions to psychological assessment and mental health of potential entrepreneurs. Doctoral Thesis, Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia. Campinas: Universidade São Francisco. Recuperado de https://www.usf.edu.br/galeria/getImage/427/3735693309910284.pdf
  • Cortez, P. A. (2019b). Manual de Desenvolvimento de Instrumentos Psicológicos: Contribuições Emergentes em Psicometria e Avaliação Psicológica. Avaliaçao Psicologica: Interamerican Journal of Psychological Assessment, 18(1), 108-110. doi: 10.15689/ap.2019.1801.15431.12
  • Cortez, P. A., & Veiga, H. M. S. (2019). Entrepreneurial intention at university. Ciencias Psicológicas, 13(1), 134-149. doi: 10.22235/cp.v13i1.1815
  • Cortez, P. A., Veiga, H. M. D. S., & Salvador, A. P. (2019). Impacto de personalidade e empresas juniores para estimular potenciais empreendedores. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 71(2), 179-192. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672019000200013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
  • Cortez, P. A., Veiga, H. M. D. S., & Sousa, J. C. (2019). Evidencia de validez a través de la estructura interna para escala de actitud emprendedora (ATEBr). Revista Brasileira de Orientação Profissional, 20(1), 90-101. doi: 10.26707/1984-7270/2019v20n1p91
  • Cortez, P.A, & Veiga, H. M. S. (2018). Características pessoais dos empreendedores: clarificação conceitual dos construtos e definições da literatura recente (2010-2015). Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 9(3), 58-79. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-64072018000300005&lng=pt&nrm=iso
  • Crant, J. M. (1996). The proactive personality scale as a predictor of entrepreneurial intentions. Journal of Small Business Management, 34(3), 42-49. Recuperado de http://homepages.se.edu/cvonbergen/files/2013/01/Proactive_Personality-Scale-as-a-Predictor-of-Entrepreneurial-Intentions.pdf
  • Ferreira, A. D. S. M., Loiola, E., & Gondim, S. M. G. (2017). Preditores individuais e contextuais de intenção empreendedora entre universitários: revisão de literatura. Cadernos EBAPE. BR, 15(2), 292-308. doi: 10.1590/1679-395159595
  • Guzmán-Alfonso, C., & Guzmán-Cuevas, J. (2012). Entrepreneurial intention models as applied to Latin America. Journal of Organizational Change Management, 25(5), 721-735. doi: 10.1108/09534811211254608
  • Hallam, C., Zanella, G., Dosamantes, C. A. D., & Cardenas, C. (2016). Measuring entrepreneurial intent? Temporal construal theory shows it depends on your timing. International Journal of Entrepreneurial Behavior & Research, 22(5), 671-697. doi: 10.1108/ijebr-09-2015-0202
  • Hauck-Filho, N. (2016a). A escolha de estimadores para análise fatorial exploratória e confirmatória. Avaliação Psicológica, 15(2), 1-2. doi: 10.15689/ap.2015.1402.ed
  • Hauck-Filho, N. (2016b). A questão da retenção fatorial. Avaliação Psicológica, 15(2), 1-2. doi: 10.15689/ap.2016.1502.ed
  • Hauck-Filho, N.; Zanon, C. (2015) Questões básicas sobre mensuração. In C. S., Hutz, D. R., Bandeira, C. M., Trentini. (Eds.). Psicometria (pp. 23-44). Porto Alegre: Artmed.
  • Hernández-López, D. M., Moncada-Toro, J. F., & Henao-Colorado, L. C. (2018). Intención emprendedora de los empleados del sector privado de la ciudad de Medellín y su Área Metropolitana (Entrepreneurial Intention of Employees in the Private Sector in Medellín and Its Metropolitan Area Diana Milena). Revista CEA, 4(8), 13-33. doi: 10.22430/24223182.1045
  • Krueger Jr, N. F., Reilly, M. D., & Carsrud, A. L. (2000). Competing models of entrepreneurial intentions. Journal of Business Venturing, 15(5-6), 411-432. doi: 10.1016/S0883-9026(98)00033-0
  • Krueger N.F. (2017). Entrepreneurial Intentions Are Dead: Long Live Entrepreneurial Intentions. In: Brännback M., Carsrud A. (Eds) Revisiting the Entrepreneurial Mind. International Studies in Entrepreneurship, vol 35. Springer, Cham. doi: 10.1007/978-3-319-45544-0_2
  • Krueger, N. (1993). The impact of prior entrepreneurial exposure on perceptions of new venture feasibility and desirability. Entrepreneurship: Theory and Practice, 18(1), 5-22. Recuperado de https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1504462
  • Krueger, N. F., & Carsrud, A. L. (1993). Entrepreneurial intentions: applying the theory of planned behaviour. Entrepreneurship & Regional Development, 5(4), 315-330. doi: 10.1080/08985629300000020
  • Laguía, A., Moriano, J. A., Gámez, J. A., & Molero, F. (2017). Validación del cuestionario de intención emprendedora en colombia. Universitas Psychologica, 16(1), 1-14. doi: 10.11144/javeriana.upsy16-1.vcie
  • Liberman, N., & Trope, Y. (1998). The role of feasibility and desirability considerations in near and distant future decisions: A test of temporal construal theory. Journal of Personality and Social Psychology, 75(1), 5-18. doi: 10.1037/0022-3514.75.1.5
  • Liñán, F., & Chen, Y. W. (2009). Development and Cross‐Cultural application of a specific instrument to measure entrepreneurial intentions. Entrepreneurship Theory and Practice, 33(3), 593-617. doi: 10.1111/j.1540-6520.2009.00318.x
  • Liñán, F., & Fayolle, A. (2015). A systematic literature review on entrepreneurial intentions: citation, thematic analyses, and research agenda. International Entrepreneurship and Management Journal, 11(4), 907-933. doi: 10.1007/s11365-015-0356-5
  • Loiola, E., Gondim, S. M. G., Pereira, C. R., & Ferreira, A. S. M. (2016). Ação planejada e intenção empreendedora entre universitários: analisando preditores e mediadores. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 16(1), 22-35. doi: 10.17652/rpot/2016.1.706
  • López, J., & Ruiz-Ruano, A. M. (2014). Modelado de la intención emprendedora con redes bayesianas. Revista de Psicología – Universidad de Chile, 23(2), 72-87. doi:10.5354/0719-0581.2014.36149
  • Lopez, T., & Alvarez, C. (2018). Entrepreneurship research in Latin America: a literature review. Academia Revista Latinoamericana de Administración. 31(4), 736-756. doi: 10.1108/ARLA-12-2016-0332
  • Luthje, C., & Franke, N. (2003). The 'making' of an entrepreneur: testing a model of entrepreneurial intent among engineering students at MIT. R&D Management, 33(2), 135-147. doi: 10.1111/1467-9310.00288
  • Martins, F. S., Santos, E. B. A., & Silveira, A. (2019). Entrepreneurial Intention: Categorization, Classification of Constructs and Proposition of a Model. BBR. Brazilian Business Review, 16(1), 46-62. doi: 10.15728/bbr.2019.16.1.4ABSTRACTLiterature
  • Moher, D., Liberati, A., Tetzlaff, J., Altman, D. G., & PRISMA Group. (2009). Reprint—preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. Physical Therapy, 89(9), 873-880. doi: 10.1136/bmj.b2535
  • Moriano, J. A., Gorgievski, M., Laguna, M., Stephan, U., & Zarafshani, K. (2012). A cross-cultural approach to understanding entrepreneurial intention. Journal of Career Development, 39(2), 162-185. doi: 10.1177/0894845310384481
  • Oosterbeek, H., Van Praag, M., & Ijsselstein, A. (2010). The impact of entrepreneurship education on entrepreneurship skills and motivation. European Economic Review, 54(3), 442-454. doi: 10.1016/j.euroecorev.2009.08.002
  • Pasquali, L. (2009). Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed Editora.
  • Rueda, S., Moriano, J. A., Liñán, F. (2015). Validating a theory of planned behavior questionnaire to measure entrepreneurial intentions. In A., Fayolle, F., Kyro, Liñán F. (Eds.) Developing, Shaping and Growing Entrepreneurship. (pp. 60-78). Northampton: Edward Elgar. doi: 10.4337/9781784713584.00010.
  • Schmidt, S., & Bohnenberger, M. C. (2009). Perfil empreendedor e desempenho organizacional. RAC-Revista de Administração Contemporânea, 13(3), 450-567. doi: 10.1590/s1415-65552009000300007
  • Shapero et al., A, & Sokol, L. (1982). The Social Dimensions of Entrepreneurship. In C. Kent, D. Sexton, and K. H. Vesper (Eds.) The Encyclopedia of Entrepreneurship (pp. 72-90). Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall. Recuperado de https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1497759
  • Silva, C. R. M., Oliveira, L. V. C., & Pinho, A. P. M. (2017). Perfil empreendedor de estudantes de um curso técnico em administração. Educação Online, 25(1), 141-165. Recuperado de http://educacaoonline.edu.puc-rio.br/index.php/eduonline/article/view/311
  • Souza, G. H. S. D., Santos, P. D. C. F. D., Lima, N. C., Cruz, N. J. T. D., Lezana, Á. G. R., & Coelho, J. A. P. D. M. (2017). Escala de Potencial Empreendedor: evidências de validade fatorial confirmatória, estrutura dimensional e eficácia preditiva. Gestão & Produção, 24(2), 324-337. doi: 10.1590/0104-530x3038-16
  • Souza, G. H. S. D., Santos, P. D. C. F. D., Lima, N. C., Cruz, N. J. T. D., & Lezana, Á. G. R. (2016). O potencial empreendedor e o sucesso empresarial: um estudo sobre elementos de convergência e explicação. RAM. Revista de Administração Mackenzie, 17(5), 188-215. doi: 10.1590/1678-69712016/administracao.v17n5p188-215
  • Shoja, M. M., Arynchyna, A., Loukas, M., D'Antoni, A. V., Buerger, S. M., Karl, M., & Tubbs, R. S. (Eds.). (2020). A Guide to the Scientific Career: Virtues, Communication, Research, and Academic Writing. John Wiley & Sons.
  • Valentini, F., & Damásio, B. F. (2017). Variância média extraída e confiabilidade composta: indicadores de precisão. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32(2), 1-7. doi: 10.1590/0102-3772e322225
  • Veiga, H. M. S., Demo, G., & Neiva, E. R. (2017). The Psychology of Entrepreneurship. In E, R, Neiva, Torres, C. V., Mendonça, H. (Eds.). Organizational Psychology and Evidence-Based Management: What Science Says About Practice. (pp. 134-155). Switzerland: Springer. doi: 10.1007/978-3-319-64304-5.
  • Venkataraman, S. (2019). "The Distinctive Domain of Entrepreneurship Research", Katz, J. and Corbet, A. (Ed.)  Seminal Ideas for the Next Twenty-Five Years of Advances (Advances in Entrepreneurship, Firm Emergence and Growth, Vol. 21), Emerald Publishing Limited, pp. 5-20. https://doi.org/10.1108/S1074-754020190000021009
  • Wilson, F., Kickul, J., & Marlino, D. (2007). Gender, entrepreneurial self‐efficacy, and entrepreneurial career intentions: implications for entrepreneurship education. Entrepreneurship Theory and Practice, 31(3), 387-406. doi: 10.1111/j.1540-6520.2007.00179.x
  • Zanon, C., Hauck-Filho, N (2015) Fidedignidade. In C. S., Hutz, D. R., Bandeira, C. M., Trentini. (Eds.). Psicometria (pp. 85-96). Porto Alegre: Artmed.
  • Zhao, H., Seibert, S. E., & Hills, G. E. (2005). The mediating role of self-efficacy in the development of entrepreneurial intentions. Journal of Applied Psychology, 90(6), 1265-1272. doi: 10.1037/0021-9010.90.6.1265